Somos iguais

Eduardo era empresário. Carlos era faxineiro.

Em plena segunda-feira, dia no qual Eduardo mais se estressava com os problemas da empresa um fato ocorre. No final do dia, Carlos sentindo-se injustiçado decide falar com o patrão.

A secretária inconformada com o pedido do faxineiro disse que o patrão não poderia conversar no momento.

Carlos disse a ela que iria esperar. Sentou-se no sofá com seu simples uniforme. A funcionária irritava-se ao ver que o sujeito agora foliava algumas revistas.

De repente a porta do escritório se abre. Eduardo despede-se de alguns homens e pergunta à secretária:

-Mais alguém?
-Não senhor! Por hoje é só! - disse a mulher com um sorriso amarelo.

Ao ouvir isso Carlos levanta-se indignado.

-E por um acaso eu sou ninguém?!

Eduardo olhou o homem de baixo para cima. Espantado perguntou.

-Quem é você?!

O faxineiro se aproximou:

-Oi seu Eduardo. Sou Carlos, faxineiro aqui da sua firma!
-E o que você quer?! - disse o patrão nervoso.
-Podemos conversar na sua sala?
Eduardo começou a rir. Para ele isso era inadmissível. Um faxineiro querendo entrar na sua sala. "Quer reclamar do sabão!", pensou. 
-Você acha que eu deixo gente como você entrar aqui? Diga logo o que você quer! Hoje não estou em um bom dia! 
A secretária arrumou suas coisas. Espantada perguntou ao patrão: 

-Precisa de mais alguma coisa por hoje Doutor? 
-Vai logo! Dois empregadinhos juntos podem querer fazer revolta! 

Com um sorriso forçado, a mulher deixa o ambiente. Agora era só Carlos e Eduardo. 
-Vamos! Se acabou os seus produtos de limpeza não é pra mim que tem que reclamar! 
-Não é isso não senhor! É que os nossos uniformes estão velhos já... Além disso, o cano de gás deve estar furando. Não está dando pra esquentar nossas marmitas.
Eduardo olhou novamente seu funcionário de cima para baixo. Agora parecia segurar um sorriso. Até que não aguentou e soltou uma gargalhada. 
-O uniforme tá o que? Feio? Quer trabalhar de terno como eu? Se enxerga seu miserável! Você tem que pegar seu salário e achar bom! Coma sua comida fria! Amanhã eu posso até resolver! Era só deixar um recado pra secretária! E outra, pobre não liga pra comida quente! Você está muito ambicioso! 
Carlos abaixou a cabeça. 
-Bom se era isso! Boa noite! Se a comida tá ruim, dá um jeito! E morrer de fome vocês não vão! Pobre sempre arranja alguma comida! 
-Seu doutor! A comida é obrigação de você! O uniforme novo também! Eu vim aqui avisar que está tudo ruim! - gritou o faxineiro, já nervoso. -Oh sujeito! Fala mais baixo comigo! Sou superior aqui! Não grita comigo não! Você é o mais baixo de todos os cargos daqui! E se não estiver satisfeito com o que tem, eu demito você agora mesmo! 
-Então demite! Quero ter minha dignidade! Não é porque sou pobre o senhor deve me tratar assim! 
Eduardo novamente riu. 
-Meu amigo! Sabe por que não converso com pobre? Pobre e rico não se misturam! Você pra mim não é nada! Aliás... Exagerei, confesso. Se não fosse os pobres não teria minha empresa e ninguém ia limpar o chão onde eu piso ou o banheiro que uso! Realmente, não posso desmerecer vocês! Mas se vocês fossem mudos! O mundo seria perfeito! Fala com Júlia amanhã, ele faz seu acerto. Agora me dá licença! 
Carlos não respondeu. Abaixou a cabeça. Logo que ia sair, um clarão tomou conta do lugar. Era fogo. A empresa começava a incendiar. 
Agora o corpo de Eduardo e Carlos começavam a se queimar. Estavam se reduzindo ao pó. E esse pó se misturava. Carlos era pó, Eduardo era pó. Não passavam disso. E agora, quem é rico? Quem é pobre? Quem disse que eles não se misturavam?

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