Pezinho

 Bom dia. O senhor faz só o pezinho?

– Faz.
– Quanto é?- Um cafezinho. Pode sentar aí.


Moro no Setor Oeste, um dos mais antigos de Goiânia. Não é estranho que a maioria dos meus vizinhos tenham mais de 60 anos. Nas minhas caminhadas, sempre passo na frente de uma barbearia chamada Garbo e dessa vez resolvi entrar porque a situação do tal pezinho estava horrível.

Em um mundo de barbershops-gourmets, eu estava entrando diretamente numa máquina do tempo. Lá estava um senhor sentado numa cadeira com um jornal na mão. Cheguei animado. Queria puxar papo. Fiquei feliz de entrar num salão com o sobrenome de uma das minhas atrizes preferidas.

 Nome legal. É por causa da atriz?- Não.
Fiquei um pouco constrangido com a seriedade dele, mas continuei curioso pra saber o porquê do nome.
– É o seu sobrenome? Garbo?- Não. Esse nome a gente escolheu depois de muita pesquisa.

“Vai mais”, pensei comigo. Acho que ninguém está muito feliz às oito da manhã de uma segunda-feira. Soltei um “ah, tá” e deixei ele começar o serviço. Dava pra ver o cuidado dele. Fazia aquilo como um artista. Sua mão cheirava a cigarro e perfume ao mesmo tempo.

– Aí, ó! Tá que nem tivesse cortado agora!
– Verdade. – Respondi. – Quanto é o corte completo? – Acrescentei.
– Uns cinquenta, mas se eu não ligar a máquina é quarenta. Por aí.

Dei o tal cafezinho e fui embora. Esqueci meus óculos. Tudo bem. Era oito da manhã de uma segunda-feira.

P.S.: Descobri que garbo é uma palavra italiana que significa elegância de modos, de gestos. Que ignorância a minha.

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