Carta de uma Mulher (Exageradamente) à Beira da Morte

Todo mundo quer ser feliz. É unânime. Nem que seja por um momento. Todo mundo quer realizar algum desejo. Todo mundo quer se satisfazer. Eu sou humana. Eu sinto. Eu tenho vontades. Vou confessar uma coisa: dentre todos os meus desejos, o de ter ele nos meus braços é o que mais quero.

Que exagerada. Você deve estar pensando. Pelo amor de Deus. Eu já disse que sou humana. É uma condição. Eu preciso. Agora. Eu morro todos os dias sem ele aqui do meu lado. Quem é ele? Deixa eu contar pra você. Eu tenho certeza que vai entender.

Eu estava no ponto de ônibus esperando para voltar para casa. Chovia. Cada um segurava seu guarda-chuva.

– Boa noite – escutei uma voz atrás de mim.
– Boa noite – respondi sem olhar para ele.

Eu pensei ironicamente "tudo o que preciso nesse momento é de um homem mexendo comigo no ponto de ônibus".

– Pode me ajudar, por favor? – a voz pareceu insegura.

Não tive escolha. Olhei. Vou morrer arrependida de ter olhado para ele. Sim. Dizem que a gente não escolhe. Simplesmente acontece. E aconteceu. Eu me apaixonei. Fui fraca, eu sei.

– Di-ga. – gaguejei.
– Aqui tem um ônibus que vai até a Praça Cívica?

"Claro", imaginei, "eu também vou pegar esse. E posso pegar você também. A gente desce antes, para naquele barzinho da 85, sei lá. Tomamos um chope pra se conhecer...". Acordei.

– Tem sim. Eu vou pegar esse. – sorri. – Obrigado. – De nada.

O ônibus chegou. Entramos. Encontramos dois assentos. Um ao lado do outro. Sentamos. Na hora me veio tanta coisa à cabeça. Pensei na chuva dessa época, que deixa o cerrado bem verdinho. Pensei nos amigos dizendo que estava carente. Pensei em nós dois num pasto tão verde. Tanto sol. Tanto amor. E de repente no beijo. Não na minha boca, mas no rosto mesmo. Estaríamos deitados naquele pasto verde. E o sol. Já falei do sol, eu sei, mas é que ele estava muito lindo.

Tudo foi tão rápido. Ele desceu na Praça Cívica. Tomou um banho de lama. Quis descer do ônibus na hora e ajudá-lo a se limpar, mas eu segui viagem. Eu perdi o amor da minha vida. Eu estou morrendo por isso. Tá bom. Parei.

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