Você tem fronteiras (e os outros também)

Tá bom. Já aceitei que viver a vida adulta não é uma tarefa fácil. Pagar contas, lidar com gente chata (inclusive eu mesmo), brigar pelos meus direitos, fazer meus deveres (mesmo que eu odeie) e por aí vai. Depois de aceitar que estas coisas fazem parte da minha rotina (e dificilmente vão sair), encontrei um novo problema: “eu consigo lidar com os problemas alheios?”

 

Cada um tem um mundo inteiro dentro de si. É como no poema Defesa, de Bilac: “Cada alma é um mundo à parte em cada peito...”. Pois é. E aí? COMÉQUEFAZ para entender o outro? Como atravessar essa fronteira que existe entre o Samirzinho aqui e o fulano? Por exemplo, eu fazia o seguinte:

 

Samir: Vamos sair?

Amigo do Samir: Hoje não posso.

Samir: Ah, tudo bem!

 

Depois de desligar, eu pensava: “Saco! Ninguém quer sair comigo! Que vida! Ninguém gosta de mim!”. E foi assim que percebi esse negócio de não entender o mundo que existe dentro de cada um. Você não entra na vida das pessoas sem pedir permissão. É a mesma coisa de visitar outro país e não ter um passaporte ou um visto.

 

Comecei então a saga de entender o outro. Quer saber? Quanto mais eu procurava entender o outro, mais eu começava a entender sobre mim mesmo. Ficou confuso? Vou tentar explicar melhor. Se eu voltar naquele diálogo, posso fazer a seguinte inversão:

 

Amigo do Samir: Vamos sair?

Samir: Hoje não posso.

Amigo do Samir: Ah, tudo bem!

 

Depois de desligar, eu volto a fazer meu trabalho (que está me consumindo horrores) e me lembro que mais tarde tenho uma consulta com o médico. Sem falar na academia que vou precisar ir porque não fui de manhã. Viu só?! Para o amigo eu disse “hoje não posso” e realmente não podia. Entendeu por que eu fui aprendendo mais sobre mim? É sobre pensar nas suas e não nas atitudes alheias.

 

Talvez quando você se entende bem, você não terá a necessidade de querer entender o “não-posso” ou qualquer outra atitude tomada pelos outros em relação a você. Tem que existir respeito a essas fronteiras. Apenas. É por isso que cito Bilac, de novo, em outro excerto do mesmo poema: “E os dois seres, sentindo-se tão perto / Até num beijo, são duas montanhas / Separadas por léguas de deserto.” e está tudo bem.

 

OBS.: Crônica escrita antes da pandemia.

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