Mão esquerda na água da fonte
Ele está o tempo todo preocupado e tentando ajustar as coisas, marcando e desmarcando compromissos, anotando tudo em pequenos papeizinhos coloridos e torcendo sempre para que eles não se percam em meio a seus rascunhos. Sim, mesmo sendo organizado, ele faz muita bagunça.
Além de querer manter sempre um controle imenso sobre sua vida, ele tem uma certa mania de limpeza. Na mochila, carrega um sabonete especial para mãos secas, uma toalha branca e uma bisnaguinha com álcool gel.
Dia desses ele acordou mais cedo que o normal. Como estava adiantado, decidiu caminhar no parque próximo à sua casa. Fazia tempo que não praticava atividades físicas. Decidiu não levar a mochila. Queria arriscar andar um pouco sem ela.
Como ainda era muito cedo, o parque ainda não estava muito cheio, foi por isso que durante a caminhada, ele se assustou quando um transeunte, aparentemente morador de rua, passou por ele, segurou sua mão esquerda, balbuciou qualquer coisa e partiu.
O enjoo veio instantaneamente e, para piorar, estava sem seu kit higiênico. Não podia se limpar. Acreditava que qualquer coisa poderia ser mais limpa do que sua mão naquele momento.
No ritmo das náuseas, vieram também ondas de ansiedade. Depois de alguns exercícios de inspiração e expiração, tentou continuar a caminhada, mas quanto mais inalava aquele ar, mais sujo se sentia, até que escutou um barulho, um som familiar, era uma fonte no meio do parque.
Instantaneamente, sua mente o transportou até sua infância na beira do córrego. Cego pela memória, caminhou até a borda, sentou-se no chão e mergulhou sua mão esquerda na água da fonte. À medida que as pessoas passavam, encontravam-no ali, quietinho.
Comentários
Postar um comentário