O nome dela é Gal

“Como é? Gal e Marília Mendonça? Nada a ver!”. Esse foi o meu pensamento quando descobri que a cantora goiana teve uma participação especial no álbum da consagrada baiana. Bom, já adianto aqui que o meu pensamento estava totalmente equivocado, mas antes de explicar como cheguei a essa conclusão, vou contar um pouco sobre a minha relação com a MPB.

Em 2018, eu elaborei um roteiro que contemplava as 4 capitais do sudeste. Como eu tenho uma relação de muito forte pela música, criei uma playlist para me acompanhar durante toda a viagem. Foi aí que abri meu coração para vozes como Milton Nascimento e toda aquela turma mineira que, mais tarde, foram levando meus ouvidos para as vozes de Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia.

Já em 2019, morando em São Paulo, comecei a frequentar diversos lugares onde a MPB dominava, como a festa Tropicaos, o Nossa Casa e, claro, os inúmeros bloquinhos de Carnaval, principalmente o Pagu, que tem como hino a canção Vaca Profana. E foi assim que meu coração foi pego de jeito pelo ritmo brasileiro e por ele continua apaixonado.

Numa onda Tropicália, ouvindo muito Caetano Veloso e Gal Costa, um anúncio nas redes sociais surgiu: turnê A Pele do Futuro, de Gal Costa. Depois de muito tentar, consegui encontrar um ingresso disponível no dia do show, mas eu teria que comprar de um desconhecido. Me arrisquei. Quem arrisca não petisca, né? Neste caso, petisquei e me deliciei vendo a incrível Gal bem de pertinho. Um banquete completo.

Na plateia, antes de o show começar, conheci um senhor fanático pela Gal. Entre uma conversa e outra, o homem confessou ter seguido a cantora várias vezes depois de muitos shows – para a sorte de Gal (ou não), ele disse não fazer mais isso. Ainda batendo um papo, esse fã da Gal (e de música brasileira) me indicou diversos álbuns e cantores. Pouco tempo depois eu estaria no Centro de São Paulo procurando discos indicados por ele.

No show tudo foi muito tranquilo. No começo, me decepcionei com a voz e o carisma de Gal, mas entendi que estamos em outro tempo e devemos respeitar suas consequências.

No fim das contas eu estava arrepiado. Afinal, à minha frente cantava uma mulher que quebrou barreiras, que participou de um movimento cultural (Tropicália) lindo e que contribuiu de forma imensurável para que nossa música se tornasse tão rica como é.

Os momentos que mais me cativaram durante todo o show foram as interpretações de Vaca Profana, Sua Estupidez, Volta e London, London.

Toda essa grandiosidade de Gal Costa me deixou ainda mais apaixonado. Entendi que que uma cantora com um histórico de tanta ousadia, mesmo aos 73 anos [na época em que escrevi o texto] de idade, conhece e respeita a música brasileira e seu público, por isso se permite experimentar as novidades, mesmo num embalo sertanejo pop com Marília Mendonça.

É. Essa mulher não é qualquer uma. O nome dela é Gal.

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