Pão de zátar
Assim que recebeu seu primeiro salário desde que chegou naquela cidade grande, partiu para cumprir sua promessa. Enfiou o fino maço de dinheiro no bolso da frente e caminhou a passos desajeitados e perdidos rumo ao restaurante. Não era qualquer restaurante. Era aquele restaurante.
Meio sem jeito, meio tímido, parou em frente a porta, abaixou a cabeça, encarou seus sapatos e viu um pequeno furo na ponta do pé esquerdo. Lembrou-se de tantos momentos em que não se permitiu viver a vida, ou até dos momentos em que não lhe permitiram viver. Aquele dia seria como encontrar um lago de água potável em pleno deserto. Ignorou. Ergueu a cabeça e acompanhou um senhor que entrava no local. Tentou não ser notado.
No interior havia poucas mesas, a luz era incandescente e uma delas piscava freneticamente. Ele não percebia que ali também era um local tão simples quanto o lado esquerdo do seu sapato. Para ele, comer fora de casa era um luxo. Para ele, o cheiro do pão com zátar que sentiu a primeira vez quando passou ali também era um luxo. Para ele, sua infância foi um luxo.
Assim que encontrou uma mesa, o garçom, um velho corcunda de cabeça branca e com um pano de prato no ombro direito entregou-lhe um papel desgastado com os pratos disponíveis na casa. Sem olhar, ele logo pediu dois pães de zátar. O velho tirou a caneta do bolso esquerdo e anotou num bloco de papel que tirou do bolso direito.
O aroma chegou primeiro. Em seguida, veio o prato com os dois pães. Pareciam ter acabado de sair do forno. Assim que o velho os colocou sobre a mesa, ele fechou os olhos e se viu frente a frente seus colegas de escola.
Numa tarde escura, onde a primeira chuva após um longo período de seca ameaçava destruir aquela pequena cidade, ele tentava se esconder atrás de uma mureta.
― Cadê sua mãe? Você não tem mãe! Cadê?
Ele, sentindo seu sangue esfriar, perdia lentamente seus sentidos. Não queria chorar na frente dos colegas. Seria pior. Restou-lhe caminhar e enfrentar os gritos insultuosos.
― Viadinho! Fujão! Molenga!
Caminhou a passos firmes, sem olhar para trás. Decidiu não correr. Não queria fazê-los pensar que estava fugindo com desespero.
Já no portão de casa, deixou um sorriso escapar de seu rosto. Era o cheiro do pão com zátar. Agora, sentindo-se seguro, correu até os fundos da casa. Ela estava com um vestido azul claro com estampas de flores rosa. Seus olhos estavam vermelhos de tanto trabalho. Os dele, de tanto segurar o choro.
Com um pano, ela retirou a grelha do forno à lenha e colocou sobre uma mesa de madeira. Ao ver o rosto do neto, abraçou-lhe forte, deu-lhe um beijo nos olhos e disse:
― Te amo, Habibi! Yalla, pegue uns para você! Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem.
Ele abriu os olhos. Ali, sentado na mesa, ele deu o primeiro pedaço no pão e disse a si mesmo:
― Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem.
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