Onde está o batom vermelho?
Acho que já tem uns três meses que a frase “não tenho nada a perder” virou um mantra pra mim. Sempre fui muito bobinha, tímida, “sozinha de fazer dó”, dizia sempre minha mãe quando fui chegando perto dos 40 e ainda passava o fim de semana de pijama, ouvindo música ou assistindo alguma bobagem americana na TV. Eu sempre disse que foi por escolha, da mesma forma que agora também está sendo uma escolha.
“Despiroquei”, “joguei a toalha”, “chutei o balde mesmo”. Ando dizendo isso pra qualquer um que vem chegando com conversinha pro meu lado. Eu sempre escutei que eu deveria ser mais pra-frente. Por que é que agora estão vindo com essa? Me poupe! Com a minha idade ninguém tem que se meter em nada. Por falar em meter, hoje tem. E eu não tenho nada a perder.
Agora falta só passar o batom. Que coisa! De pensar que há 3 meses me dei conta de que não tinha um batom! Lorena, aquela vaca que só me maltratava teria inveja se me visse assim. Acontece que ela morreu. Peninha. Ainda morreu feia. Eu não, eu quero morrer bonita e bem vivida. É por isso que hoje vou passar um vermelho, mas não aqueles de puta. A puta aqui está reservada pra quando eu chegar na cama do Márcio.
Por falar nele, será que... Opa! Mandou mensagem. Idiota, escreve tão mal. Nem pra escrever “a fim” separado. O que importa é que “afim” ou “a fim”, ele quer me comer. Querem me comer! Ah, como eu queria que a tia Edileusa tivesse viva pra ver a minha versão piranha. Pelo menos uma pessoa na família teria orgulho de mim.
Nossa! Minha cabeça está pensando demais hoje. Pelo menos não penso naquilo. Aquilo fica pra quando chegar a hora. Por enquanto eu vou aproveitando.
Sabe que amanhã, no encontro com o Leandro, eu ainda não sei... Ando sentindo que ele está apaixonado. O pior é que eu também. Finalmente, hein, dona Aline? Mas por que pelo Leandro, né? Vai entender o que acontece. Mas eu não vou abrir o jogo com ele. Eu decidi não abrir com ninguém, e não vai ser com ele. Bom, chega! Daqui a pouco o louco do Márcio vem tocando a buzina daquela moto e não quero escutar. Tomo o restinho do negroni que preparei às pressas, engulo o comprimido antes de a dor chegar, retoco o batom e vou na garupa do meu homem, mas só por hoje.
O jantar é aquilo de sempre. Salmão grelhado com saladinha, a trilha do fim de semana, o meu hamburger malpassado, o blábláblá do divórcio dele, a minha flertada com o bartender, a distância entre ele os filhos, a falta de profundidade nas relações. Essa última é a que mais me irrita. Eu sei que ele está cagando pra profundidade das relações. Acabou de separar. Papinho piegas que só com um negroni eu consigo aguentar. E, claro, com muito sexo! Só que hoje vai ser uma vez só porque amanhã tem Leandro e é dele que eu gosto mesmo.
Na cama também foi o de sempre. Mas é um “de sempre” bom. Que me satisfaz momentaneamente. Vim porque não tenho nada a perder mesmo, já disse. Agora é apagar esse cigarro, colocar roupa e pegar um táxi. Não tenho paciência pra cancelamento de aplicativo, vou mesmo ali no ponto e peço. Seu Roberto até me conhece já. Deve achar que sou puta, ainda mais porque nem durmo. Odeio dormir em casa de homem.
Chego cansada, mas não o suficiente pra me deitar com maquiagem. Tiro tudinho, até a roupa. Ah, que delícia a minha cama. Me embolo toda nesses lençóis de seda. Quis comprar um desde que fui pro motel pela primeira vez na vida com aquele argentino. Cada uma! Agora decidi que todos os meus lençóis vão ser de seda. Quero ter tudo o que gosto.
Acordei com a aquela dor de cabeça. Não é por conta do nervosismo, eu sei. Quando vou me encontrar com Leandro sempre fico nervosa, mas não a ponto de ter dor de cabeça. A culpa também não foi das três doses de negroni de ontem. Está doendo por conta daquilo e pronto. Paciência. Já me acostumei. Tomo mais um comprimido, mas hoje é com água, porque com o Leandro eu não preciso de álcool, a nossa conversa é sempre boa.
Onde está meu batom? Será que caiu da bolsa? Reviro tudo. Meu deus! Como estou cheia de maquiagens. Nunca imaginei. Onde está esse batom? Eu já tomei o remédio? Minha cabeça está doendo muito. Será que tomo mais um? Engraçado, Leandro ainda não mandou mensagem. Ah, mandou sim. Como anda minha cabeça. Mas olha só! O batom está na minha mão.
Volto pra frente do espelho. Aline? Aline, quem é você? Aline, passa logo esse batom que você não tem nada a perder. Meu deus! Justo hoje? No dia do encontro com Leandro? Onde está mesmo o remédio? Eu ainda não tomei. Vou tentar passar o batom antes. Será que eu deveria falar da doença? Que inferno! Cadê o batom? O batom está na minha mão. Que cabeça a minha!
É. Acho que hoje não vou ter o encontro com Leandro. Mas tudo bem. Eu fiz o que pude. Em pouco tempo deu muito, em todos os sentidos. Que delícia! Tia Edileusa! Lorena, sua vaca. Eu vou aí, só me deixa passar o batom. Quero morrer bonita, não como a Lorena. Mas gente, onde está o bendito batom? Mas olha que cabeça a minha! O batom está na minha mão!
“Despiroquei”, “joguei a toalha”, “chutei o balde mesmo”. Ando dizendo isso pra qualquer um que vem chegando com conversinha pro meu lado. Eu sempre escutei que eu deveria ser mais pra-frente. Por que é que agora estão vindo com essa? Me poupe! Com a minha idade ninguém tem que se meter em nada. Por falar em meter, hoje tem. E eu não tenho nada a perder.
Agora falta só passar o batom. Que coisa! De pensar que há 3 meses me dei conta de que não tinha um batom! Lorena, aquela vaca que só me maltratava teria inveja se me visse assim. Acontece que ela morreu. Peninha. Ainda morreu feia. Eu não, eu quero morrer bonita e bem vivida. É por isso que hoje vou passar um vermelho, mas não aqueles de puta. A puta aqui está reservada pra quando eu chegar na cama do Márcio.
Por falar nele, será que... Opa! Mandou mensagem. Idiota, escreve tão mal. Nem pra escrever “a fim” separado. O que importa é que “afim” ou “a fim”, ele quer me comer. Querem me comer! Ah, como eu queria que a tia Edileusa tivesse viva pra ver a minha versão piranha. Pelo menos uma pessoa na família teria orgulho de mim.
Nossa! Minha cabeça está pensando demais hoje. Pelo menos não penso naquilo. Aquilo fica pra quando chegar a hora. Por enquanto eu vou aproveitando.
Sabe que amanhã, no encontro com o Leandro, eu ainda não sei... Ando sentindo que ele está apaixonado. O pior é que eu também. Finalmente, hein, dona Aline? Mas por que pelo Leandro, né? Vai entender o que acontece. Mas eu não vou abrir o jogo com ele. Eu decidi não abrir com ninguém, e não vai ser com ele. Bom, chega! Daqui a pouco o louco do Márcio vem tocando a buzina daquela moto e não quero escutar. Tomo o restinho do negroni que preparei às pressas, engulo o comprimido antes de a dor chegar, retoco o batom e vou na garupa do meu homem, mas só por hoje.
O jantar é aquilo de sempre. Salmão grelhado com saladinha, a trilha do fim de semana, o meu hamburger malpassado, o blábláblá do divórcio dele, a minha flertada com o bartender, a distância entre ele os filhos, a falta de profundidade nas relações. Essa última é a que mais me irrita. Eu sei que ele está cagando pra profundidade das relações. Acabou de separar. Papinho piegas que só com um negroni eu consigo aguentar. E, claro, com muito sexo! Só que hoje vai ser uma vez só porque amanhã tem Leandro e é dele que eu gosto mesmo.
Na cama também foi o de sempre. Mas é um “de sempre” bom. Que me satisfaz momentaneamente. Vim porque não tenho nada a perder mesmo, já disse. Agora é apagar esse cigarro, colocar roupa e pegar um táxi. Não tenho paciência pra cancelamento de aplicativo, vou mesmo ali no ponto e peço. Seu Roberto até me conhece já. Deve achar que sou puta, ainda mais porque nem durmo. Odeio dormir em casa de homem.
Chego cansada, mas não o suficiente pra me deitar com maquiagem. Tiro tudinho, até a roupa. Ah, que delícia a minha cama. Me embolo toda nesses lençóis de seda. Quis comprar um desde que fui pro motel pela primeira vez na vida com aquele argentino. Cada uma! Agora decidi que todos os meus lençóis vão ser de seda. Quero ter tudo o que gosto.
Acordei com a aquela dor de cabeça. Não é por conta do nervosismo, eu sei. Quando vou me encontrar com Leandro sempre fico nervosa, mas não a ponto de ter dor de cabeça. A culpa também não foi das três doses de negroni de ontem. Está doendo por conta daquilo e pronto. Paciência. Já me acostumei. Tomo mais um comprimido, mas hoje é com água, porque com o Leandro eu não preciso de álcool, a nossa conversa é sempre boa.
Onde está meu batom? Será que caiu da bolsa? Reviro tudo. Meu deus! Como estou cheia de maquiagens. Nunca imaginei. Onde está esse batom? Eu já tomei o remédio? Minha cabeça está doendo muito. Será que tomo mais um? Engraçado, Leandro ainda não mandou mensagem. Ah, mandou sim. Como anda minha cabeça. Mas olha só! O batom está na minha mão.
Volto pra frente do espelho. Aline? Aline, quem é você? Aline, passa logo esse batom que você não tem nada a perder. Meu deus! Justo hoje? No dia do encontro com Leandro? Onde está mesmo o remédio? Eu ainda não tomei. Vou tentar passar o batom antes. Será que eu deveria falar da doença? Que inferno! Cadê o batom? O batom está na minha mão. Que cabeça a minha!
É. Acho que hoje não vou ter o encontro com Leandro. Mas tudo bem. Eu fiz o que pude. Em pouco tempo deu muito, em todos os sentidos. Que delícia! Tia Edileusa! Lorena, sua vaca. Eu vou aí, só me deixa passar o batom. Quero morrer bonita, não como a Lorena. Mas gente, onde está o bendito batom? Mas olha que cabeça a minha! O batom está na minha mão!
Como eu estava com saudades desses seus contos!! Sensível, surpreendente
ResponderExcluirComo você escreve bem!!! Amo ❤️
ResponderExcluirQue maravilhoso ler seus textos!
ResponderExcluirParabéns! 🥰🥰🥰
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