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Mostrando postagens de janeiro, 2019

A mancha que não sai

Aconteceu de um jeito inesperado. Você ali me achando louco. Eu ali te achando único. Pode ser, vai. Eu estava meio louco mesmo. Afinal, eu estava perdido, mas você estava em casa. Eu te olhava. Você se esquivava. A música alta me excitava. Você me excitava. Não. Eu não estava tão louco assim quando me dei conta de que queria você. Estava certo de que era você. Teria que ser você. Só você me faria bem naquela hora. E aquela hora virou dias. Meses. Tudo contribuía para que fôssemos muito mais do que os outros julgavam. Sim. Nos julgaram. Eles julgam todos. Com nós dois não foi diferente. E o pior: não escapamos. Nosso julgamento foi até à última instância. A decisão coube a mim. Você não compareceu. Sua defesa não compareceu. A minha defesa estava em peso. Me senti um peso. O clima pesou. Entre acordos, beijos, receios, desejos, ódios e medos, eu te matei. Eu me sangrei. Uma dor tomou conta de mim. Tentei esconder seu corpo. Tentei esconder tudo. Eu tentei me esconder. Você se levantou ...

Mão esquerda na água da fonte

Eu estou o tempo todo preocupado. Tentando ajustar as coisas. Marcando e desmarcando compromissos. Anotando tudo em bloquinhos de papel e torcendo sempre para eles não se perderem no meio das minhas coisas. Sim, mesmo sendo organizado, eu faço bagunça. Além de querer ter um controle imenso sobre minha vida, eu tenho uma certa mania de limpeza. Na mochila eu sempre levo um sabonete especial para mãos secas, uma toalha que fica dentro de uma bolsinha de plástico e uma bisnaguinha de álcool gel. Um dia acordei mais cedo que o normal. Como estava adiantado, resolvi dar uma caminhada no parque. Fazia muito tempo que eu estava sem praticar atividades físicas. Decidi não levar minha mochila. Achei que ela me incomodaria. Talvez sim, mas preferi arriscar. Enquanto caminhava, um morador de rua passou por mim e pegou em minha mão esquerda. Meu desespero aumentou. Fiquei enojado. Para piorar, estava sem meu kit higiênico. Não podia me limpar. Naquela hora, qualquer coisa para mim era mais limpa d...

Carta de uma Mulher (Exageradamente) à Beira da Morte

Todo mundo quer ser feliz. É unânime. Nem que seja por um momento. Todo mundo quer realizar algum desejo. Todo mundo quer se satisfazer. Eu sou humana. Eu sinto. Eu tenho vontades. Vou confessar uma coisa: dentre todos os meus desejos, o de ter ele nos meus braços é o que mais quero. Que exagerada. Você deve estar pensando. Pelo amor de Deus. Eu já disse que sou humana. É uma condição. Eu preciso. Agora. Eu morro todos os dias sem ele aqui do meu lado. Quem é ele? Deixa eu contar pra você. Eu tenho certeza que vai entender. Eu estava no ponto de ônibus esperando para voltar para casa. Chovia. Cada um segurava seu guarda-chuva. – Boa noite – escutei uma voz atrás de mim. – Boa noite – respondi sem olhar para ele. Eu pensei ironicamente "tudo o que preciso nesse momento é de um homem mexendo comigo no ponto de ônibus". – Pode me ajudar, por favor? – a voz pareceu insegura. Não tive escolha. Olhei. Vou morrer arrependida de ter olhado para ele. Sim. Dizem que a gente não escolhe...