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Está chegando o verão

Verão de chuva. Verão de mudanças. Verão de fim de ano. Verão de ano novo. Verão das águas de março. Os que ainda vão nascer nessa terra tropical o verão. Verão chuva. Verão mudanças. Verão fim de ano. Verão ano novo. Verão águas de março. Ah! Eles vão amar o nosso verão!

A pessoa mais insuportável que eu já conheci em toda minha vida

Eu odeio o vento daquele lugar. Ele sabe disso. E eu tenho certeza que esse foi o motivo de ele ter marcado esse encontro lá. Eu já iria começar a discussão perdendo, afinal, eu não ficaria confortável com o vento. Xeque-mate. Mas eu iria dar a volta por cima. Decidi que o isso não iria me abalar. Parece pouco, mas realmente odeio o vento que faz no alto do Convento da Penha. De verdade. Poxa, tantos lugares nessa cidade para marcar uma conversa. Respirei fundo ao ler a mensagem. Respondi apenas com um OK. Ele odiava. Nos últimos dias era assim. Um provocava o outro sem parar. Não é por nada não, mas eu estava bom de argumento. Se fosse uma competição, minha vitória era garantida. Mas não era. Era vida real mesmo. Era um relacionamento em crise. Era uma vez um casal feliz que se conheceu no início da primavera passada. Cheguei. Chegamos. Eu não disse nem oi. Comecei no ataque. – Por que aqui? – pergunte...

Menina do céu

Foi assim, eu queria um pouquinho de paz. Caminhei até a estação Botafogo e peguei um metrô. Desci em Copacabana. O tempo não era dos melhores. Ventava muito, mas o calor era aquele bem carioca mesmo. Fui em direção à praia, parei num quiosque em frente ao Copacabana Palace. Pedi uma cerveja. Depois de uns cinco minutos apreciando a vista, a cerveja e evitando os vendedores de amendoim, uma mulher chegou com várias sacolas. –  Pastel de carne com queijo!  – gritou para o garçom. Pendurou as sacolas nas cadeiras e se sentou. Pegou seu celular. Aí começou. –  Menina do céu! Foi horroroso! Foi um barraco. Daqueles bem feios. Quando ela viu que não tinha ninguém do seu lado, aceitou a derrota. Foi embora! Ah! Você acha mesmo? É claro que ela não ia esquecer aquela bolsa! Saiu com ela entre as pernas. Mas levou. Foi a bolsa no lugar do rabo. Rabo entre as pernas! Modo de dizer, Elisa. Entendeu? Mas, então, menina. Você precisava ver a cara do homem. Se é que tinha cara. O cara...

Do velho ao novo

A gente se machuca. A gente se cura.A gente se odeia. A gente se ama. A gente bagunça. A gente organiza. A gente bagunça e arruma de novo. A gente se odeia e se ama de novo. A gente se machuca e se cura. De novo. E de novo, de novo, de novo... E de tanto repetir a gente percebe uma coisa: a gente envelhece. E não tem de novo. Aí a gente tenta. Tenta não se machucar. Tenta não se odiar. Tenta não bagunçar. O que envelhece a gente? O "repetir erros" ou o "tentar não errar de novo"? É... Não dá pra fugir. A gente envelhece. De um jeito, ou de outro.

O ipê

Era setembro. Eu estava sentado no banco do parque, em frente a um ipê amarelo quando ela chegou. Parecia apreensiva. Foi direta. – O que você quer comigo? – Senta – eu disse. Sentou-se do meu lado e colocou a bolsa no colo. – Então. O que você quer? – Conversar. – Conversar... Eu sei que você quer conversar! Tô perguntando o que você quer de mim com essa conversa. Entendeu? – Entendi. – Então fala! Você não é assim tão calado. Tá sempre cheio de argumentos. O que você quer? – estava impaciente. – Quero, sei lá. Ver você. Ver se a gente pode, sei lá, tentar... – Olha aqui! Eu não tô te entendendo. E, por favor. Olha pra mim. Não olha pro lado. Você me chamou pra conversar, não é? Eu tô aqui, então, POR FAVOR, esteja aqui também. Olha pra mim enquanto eu falo. Fiquei paralisado. De fato eu não conseguia encará-la. Preferia olhar para o céu. O tempo estava aberto e o sol ardia. – Ouviu o que eu disse? – Ouvi. – Não parece. Olhei para o lado. Um. Dois. Dois passarinhos compartilham agora ...

Um cafezinho

Onde está você?

Era meia-noite. Ela estava perdida em plena Avenida Anhanguera. Sozinha. A bateria do seu celular estava acabando. Não se importava. Na verdade, sabia apenas de uma coisa: aquela era a hora. Veio assim, do nada, o desejo de acabar com tudo. Tirou o celular do bolso. Vinte por cento de bateria. Ligou para ele. – Edu. – Clarice? – Onde você tá? – Tô em casa. O que foi? – Eu tô perdida, Edu. – Como assim? Onde você tá? – Tô na rua. – Quem tá aí com você? – Eu. – Como assim? Você tá sozinha na rua uma hora dessas? – Minha bateria tá acabando. – Pelo amor de deus. Onde você tá? – Na Anhanguera. – Você tá bem? – A gente precisa conversar. – Pelo amor de deus! Vai pra casa. – Eu quero conversar. Tudo bem? – Tudo bem, mas vai pra casa, ok? Não fica na rua. Você viu que horas são? – Não importa. – É claro que importa! Você está em plena Avenida Anhanguera, uma hora dessas. Tá tudo bem? – Tá. Tá tudo bem. (silêncio) – Clarice?– Oi. – Volta pra casa. – Edu, na verdade não tô bem. – Eu vou aí. Pel...

No meio da crise tinha uma flor/planta/ser vivo

Samir, respira. Olha o tamanho dessa planta comparada ao tamanho do mundo. Agora pensa no problema. Agora olha a planta. Agora finge que seu problema é essa planta. Agora pensa no tamanho do mundo. Na planta. No mundo. Planta. Mundo.Quer saber? Tô nem aí. Se eu achar que meu problema é grande ele vai ser. Não sou escritor de autoajuda. Pensando bem, a planta é pequena. Tem problema pior. Verdade. Meu problema não é nada. É até bonitinho. Deixa eu fazer uma foto. Olha que linda. Plantinha. Problema. Mundo. Verdade. Paz. Amor. Ah, que saco. Eu quero reclamar mesmo. Me deixa. Mas que flor bonitinha. Flor não pode ser comparada a problema. Isso é uma flor? Eu não entendo nada de biologia. Claro que não é flor. Cadê as pétalas? Será que é folha? Sei lá. Mas é pequena. Meu problema é grande. Não! Pequeno. Meu problema é a planta. A planta perto do mundo é pequena. Meu problema não é nada... É sim! Ai, não sei. Eu tenho casa, comida... Eu odeio cozinhar. Tô com fome. Chega.

Aqui vamos nós (de novo)

Quando eu tinha 13 anos minha mãe comprou um daqueles DVDs que vendiam na rua com músicas da época dela. Até então eu só escutava o que passava no MTV Hits ou TVZ e, claro, as musiquinhas do Disney Channel. DVD no player. Volume alto. Pronto. Começava uma música que dá rasteira em boa parte das sofrências de Adele ou até mesmo de nossa musa sertaneja, Marília Mendonça. A música era  The Winner Takes It All ,  do grupo sueco ABBA. Foi assim que descobri uma das minhas bandas preferidas: um DVD piratão com sucessos “flashbacks”. Depois disso, ABBA ficou presente na minha vida até hoje. Lembro que na época baixei toda a discografia. Passava horas organizando os arquivos e escutando. A melhor surpresa veio no mesmo ano com o anúncio do filme  Mamma Mia!  “Cara, um musical só com músicas do ABBA! É isso mesmo?”, pensei. Infelizmente, a vergonha e a falta de amigos me impediram de vê-lo no cinema. Tudo bem. Eu fiz a reserva na locadora antes mesmo de lançar o DVD. Lá estav...

O dia em que escrevi um soneto

Passo o dia inteiro escrevendo em frente a uma tela de computador. Um dia desses, quando cheguei em casa, decidi continuar escrevendo, mas ao contrário de títulos publicitários ou roteiros com trocas de ofertas, decidi ser um pouco ousado. Quis escrever um soneto.